terça-feira, 20 de novembro de 2007

O vizinho

No prédio onde moro, faz um ano, residia um vizinho um tanto quanto arrogante, que logo vi que trabalhava em algo importante, talvez no governo ou algo do tipo.Quando o encontrava no elevador, um aceno com a cabeça era o máximo que dito cujo me concedia, sempre com seu ar de superioridade e seu terno impecável repleto de broches da bandeira e do governo do Estado. Não me importava muito, saía sem cumprimentar e seguia meu caminho.
Algumas semanas atrás estouraram mais escândalos de corrupção e crise no país, o que não é surpresa para ninguém. Surpresa (ou não) foi quando vi estampado na capa da Zero Hora meu simpático vizinho algemado saindo de um camburão da polícia. Descobri que não só ele possuía um alto cargo trabalhando para o Estado, como estava sendo acusado de corrupção e fraude. Meu sentimento foi único e claro: vergonha alheia. Um homem daquela pose, que esperava o motorista do governo vir buscá-lo todos os dias na frente do edifício, saindo algemado de um carro da polícia por desviar dinheiro.
Não é novidade para ninguém a crise em que o Brasil está mergulhado: é fraude na cultura, crise nos aeroportos, dinheiro desviado daqui aparecendo na conta de um ou de outro. Mas acho que quando o problema se aproxima realmente de nós é que notamos o quão vergonhoso ele é. E o pior de tudo é que a situação em que o país se encontra não parece ter previsão para acabar. Mas afinal o que são esses detalhes se a Copa do Mundo de 2014 é nossa? O Carnaval está chegando, não vamos nos preocupar com esses milhões diários roubados dos bolsos dos contribuintes e colocados nas cuecas dos deputado.
Por último, alguns fragmentos de um texto de Fernando Gabeira:
“Não condeno gastos com a Copa, apenas lamento que essa ruidosa concordância não se dê em torno de outros temas essenciais.(...) Continuarei vaiando os governos do passado, presente e futuro próximo. Certamente vão perguntar: como é possível torcer contra o Brasil? De certa forma, é minha especialidade. Se ser brasileiro é isto, não contem comigo.”




Luciana Webster Negretto (:

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