segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Para não dizer que não falei de flores Composição: Geraldo Vandré

Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantado
E seguindo a canção...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)

Pelos campos a fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)

Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)

Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não...

Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(4x)


Análise

Geraldo Vandré escreveu essa música em 1968, em meio ao auge da ditadura militar brasileira. A repercussão foi tão grande que culminou com sua prisão e tortura, tornando Vandré um dos mártires da época.
O autor consegue fazer uma síntese de sua geração, retratando a angustia da população perante o regime. Ele incita a todos para que clamem seus direitos, prega a igualdade e estimula a ação rápida. O refrão da música “Vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer”, ficou conhecido como o hino daqueles que se opunham a ditadura e foi, como a música, censurado pelo governo.
Na terceira estrofe, ele cita a fome no campo, algo que ainda podemos ver com intensidade hoje em dia, 40 anos depois. Assim, se pode ver que a maioria dos problemas brasileiros continuam os mesmos, temos um país com uma vasta imensidão de áreas plantadas e ao mesmo tempo uma parcela considerável que passa fome.

Ele acreditava que a luta contra a ditadura deveria ser pacífica, através de protestos e do diálogo, como dito no trecho: “... E acreditam nas flores, vencendo o canhão...”. Entretanto, os militares não compartilhavam de tal visão, sendo mais adeptos do uso da força para conter a oposição.
É feita uma constata que a vida dos soldados do exército não passa de uma trajetória de subordinação incondicional ao regime, completa alienação, lavagem cerebral e sem razão. Isso é algo comum e passível de reflexão, já que a maioria dos soldados a serviço de governos não sabem exatamente o porquê que matam, apenas cumprem ordens estabelecidas por líderes em busca de mais poder.
Autores de letras como esta, pregando a mudança através de meios pacíficos, devem ser louvados não só no Brasil, mas em todo o mundo. A humanidade passa por uma fase, ainda que extremamente tecnológica, de pouco diálogo entre governo e população, casos recentes como a sangrenta repressão a oposição em Burma, na Rússia e no Paquistão, nos fazem sentir falta de figuras como Geraldo Vandré, que acreditavam nas flores vencendo canhão.

GUILHERME BAPTISTA SCHWARTSMANN

Um comentário:

Helder disse...

A musica nos leva a uma reflexão muito profunda, e o Geraldo foi um genio, pois apesar dos versos simples de sua canção, ela mostra o poder do diálogo e a não violencia, inscitam o povo a revolução sem armas... e isso e fantástico